Drácula.
Senhor
das terras que se estendem do passo Borgo, e do castelo que leva seu
nome.
Soldado,
estrategista, possível voivoda da Terra Além da Floresta.
Alquimista,
feiticeiro de Scholomance, discípulo do próprio diabo.
O
Rei dos Vampiros.
Personagem-título
do romance de horror gótico que influenciou todos os vampiros da
ficção após sua publicação em 1897, Drácula já apareceu e teve
a sua história adaptada para diferentes mídias mais vezes que
qualquer outro personagem do gênero, se tornando o arquétipo
ocidental para a figura do vampiro clássico.
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É
uma figura inconfundível. E sua história, a do monstro inumano que
se passa por cavalheiro, deixando as ruínas de seu castelo para se
alimentar da vida de pulsa em um grande centro da civilização pode
ser vista em inúmeras obras, seja no plano de Kurt Barlow em A Hora
do Vampiro de Stephen King, ou no Vampiro Lestat, de Anne Rice,
voltando a desfrutar do mundo em uma banda de rock após anos de
letargia.
Sem
nem entrar no assunto dos tons de ansiedade vitoriana colonialista,
invasão e tensão étnica da obra original, podemos dizer que a
marca de Drácula nos outros vampiros é algo muito mais visível que
os prosaicos orifícios deixados no pescoço de suas vítimas.
E
se eu dissesse, após tudo isso, que existe mais de um Drácula?
E
não apenas isso. Que existe mais de um Drácula saído da pena do próprio Bram
Stoker (mais ou menos).
Bem,
é exatamente isso que estou dizendo.
Começo
aqui o Dossiê do Estranho Caso dos Dois Dráculas.
Pedaços Perdidos
Entre
o pesadelo com um Vampiro-Rei se erguendo do túmulo que Bram Stoker
teve após uma jantar de caranguejos mal digerido, e a publicação
da versão de Drácula que conhecemos, temos um longo período de
tempo. Nesse período o autor irlandês pesquisou sobre o folclore
Europeu e suas histórias de vampiros, ouviu sobre Abhartach, o
tirano insular que bebia sangue, leu os escritos de Emily Gerard sobre as
superstições da Transilvânia, se deparou com a figura histórica
de Vlad III, O Empalador, que daria o nome ao seu personagem e livro
(muito melhor que o inicial, e nem um pouco discreto “Conde
Wampyr”), e presenciou o pânico da população da Nova Inglaterra,
que assustados com os surtos de tuberculose que afetavam e matavam um
a um membros de certas famílias, chegaram a conclusão que era tudo
causado por vampiros, exumando e trespassando corpos com estacas,
decapitando e queimando os cadáveres de entes queridos, e até
consumindo seus corações na esperança de se livrar da maldição
que acreditavam existir.
Em
todo esse período, Bram Stoker trabalhou no manuscrito de seu livro,
e obviamente as primeiras versões são consideravelmente diferentes
do produto final. Diversos personagens presentes nas anotações
originais para o livro não aparecem no romance, mas a indicação
mais conhecida do material apócrifo de Dracula, está na conto “O
Convidado de Drácula”, presente na coletânea “O Convidado de
Drácula e Outras Histórias”, publicado pela primeira vez em 1914,
dois anos após a morte de Stoker.
O
conto acompanha um viajante inglês (que em momento algum ouvimos o
nome, mas provavelmente se trata de Jonathan Harker) em uma visita a Munique,
antes de partir para encontrar alguém que o espera na Transilvânia. Apesar dos alertas
dos locais para que não vá pra muito longe, ou retorne muito tarde,
pois aquela é a Noite de Santa Valburga (Walpurgisnacht, que é quase um esquenta para o Halloween), o viajante
deixa sua carruagem e anda rumo a uma vila abandonada, enquanto é
observado por um estranho alto e magro (que muito provavelmente é o próprio Drácula).
Pego por uma nevasca, o viajante Inglês se refugia em um cemitério cercado por um bosque. Ali ele se depara com o mausoléu de mármore de uma certa “Condessa Dolingen de Gratz” que suicidou-se. Dentro da tumba, o viajante encontra a própria Condessa, não como um cadáver, mas apenas como se estivesse adormecida. Antes que possa investigar qualquer coisa, uma força misteriosa o puxa para fora da tumba, que é atingida por um raio e destruída completamente no exato momento em que a figura loura se levanta do mármore onde repousava. Ouvindo os gritos da Condessa, o viajante inglês perde a consciência, e ao acordar, se depara com um gigantesco lobo de olhos flamejantes deitado sobre o seu corpo e lambendo sua garganta. Quando cavaleiros chegam para resgatá-lo, afugentando a fera, eles constatam que o lobo (que mencionam ser "um lobo, mas que também não é um lobo"), apenas manteve seu corpo aquecido durante a noite fria.
Ao
ser levado de volta ao hotel, o viajante encontra um telegrama do
anfitrião que o espera na Transilvânia, Drácula, que o avisa sobre
os “perigos da neve e dos lobos e da noite”.
![]() |
Florence Balcombe, viúva de Bram Stoker Retrato feito por Oscar Wilde... seu ex. |
Nos
anos 80, um dos manuscritos originais de Drácula foi encontrado em
um celeiro da Pennsylvania. Com 541 páginas, o livro ainda mantinha
o título “The Un-Dead” rabiscado na página de rosto (nome que
só foi mudado algumas semanas antes da publicação), e era uma
cópia que pertencia a Thomas Corwin Donaldson, um advogado americano
que foi amigo pessoal de Stoker.
Entre inúmeras pequenas diferenças desse manuscrito com a versão final do livro, está um trecho em que Jonathan Harker menciona que sua garganta “ainda está dolorida por conta da língua áspera do lobo”, uma referência clara ao trecho cortado do livro, que seria o primeiro capítulo. Além disso há um trecho em que, ao ser perseguido pelas três vampiras que habitam o castelo, Harker identifica a vampira loura que o tenta “beijar” como sendo a mesma mulher que ele havia visto na tumba em Walpurgisnacht.
Entre inúmeras pequenas diferenças desse manuscrito com a versão final do livro, está um trecho em que Jonathan Harker menciona que sua garganta “ainda está dolorida por conta da língua áspera do lobo”, uma referência clara ao trecho cortado do livro, que seria o primeiro capítulo. Além disso há um trecho em que, ao ser perseguido pelas três vampiras que habitam o castelo, Harker identifica a vampira loura que o tenta “beijar” como sendo a mesma mulher que ele havia visto na tumba em Walpurgisnacht.
Curiosamente,
a tal Condessa Dolingen de Gratz, é mencionada como proveniente da
Styria, local onde se passa outra história... uma tão influente
quanto Dracula na trajetória dos vampiros na ficção. É em um
castelo da Styria onde se passa Carmilla, de Sheridan Le Fanu,
publicado 26 anos antes do romance de Stoker. É possível que a
presença da personagem tenha sido uma pequena homenagem a essa obra
(ou então, uma declaração alegórica de que o seu novo vampiro
estava tomando o lugar da criação de Le Fanu).
![]() |
Marcilla ataca a adormecida Bertha, D. H. Friston (1872) mas minha primeira opção foi por uma imagem da Natasha Negovanlis |
Uma
outra mudança que essa versão anterior de Dracula tinha, era um
novo final. Após o trecho do livro, nas ultimas páginas, que dizia
“Agora o Castelo de Drácula parecia emergir do fundo de um céu
ensanguentado” vinha o paragrafo abaixo:
“Enquanto olhávamos veio um terrível tremor da terra, tanto que chegamos a
perder o equilíbrio, caindo de joelhos. No mesmo instante, com um
rugido que parecia sacudir o próprio firmamento, todo o castelo, as
pedras, e até mesmo o pico em que se erguia pareceu levantar no ar e
se desfazer em fragmentos, enquanto uma nuvem de fumaça negra e
amarelenta se erguia com inconcebível rapidez.
A
natureza parou enquanto os ecos daquele acontecimento estrondoso se
esvaiam no estampido oco de um trovão - reverberando como se os
alicerces dos céus tremessem. Então, da poderosa ruína que se
desfazia vieram os fragmentos que o cataclista havia lançado para
longe.
De
onde estávamos o que parecia é que uma selvagem erupção vulcânica
havia satisfeito um, desejo da natureza, afundando o castelo e toda a
estrutura do pico no abismo. De tão chocados com a grandiosidade
repentina do acontecido, esquecemos de pensar em nos mesmos.”
Esse trecho com a destruição do castelo foi tirado pelo próprio Bram Stoker, e não por seu editor, provavelmente para evitar comparações com o final de “A Queda da Casa de Usher”, de Edgar Allan Poe.
Esse trecho com a destruição do castelo foi tirado pelo próprio Bram Stoker, e não por seu editor, provavelmente para evitar comparações com o final de “A Queda da Casa de Usher”, de Edgar Allan Poe.
A
existência das versões anteriores de Dracula também tem
confirmação em outro lugar peculiar. Em diferentes cartas à
diferentes pessoas, H.P. Lovecraft menciona que sua amiga, a
jornalista Edith Dowe Miniter, teve oportunidade de revisar um
manuscrito preliminar de Dracula, que ela considerou extremamente
desleixado, cobrando mais pelo serviço do que Stoker estava disposto
a pagar. Essa Edith Miniter havia sido a mesma que publicara uma
critica extremamente negativa sobre a passagem de Sir Henry Irving e
sua trupe teatral pelos Estados Unidos, em 1894. Passagem essa em que
Bram Stoker ocupava o papel de contato de imprensa.
Por fim, em 26 de Maio de 1897, Dracula foi publicado na Inglaterra pela
Archibald Constable and Company, e por seis xelins, você poderia
comprar a edição original, com sua capa amarela e título em
vermelho.
O livro recebeu críticas positivas na maioria dos jornais da época, e foi então traduzido e publicado em muitos outros países depois disso, incluindo a Islândia, Suécia, Hungria, e Estados Unidos.
O livro recebeu críticas positivas na maioria dos jornais da época, e foi então traduzido e publicado em muitos outros países depois disso, incluindo a Islândia, Suécia, Hungria, e Estados Unidos.
E
é aqui que a história se complica.
Um Achado Peculiar
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Entra
em cena o holandês Hans Corneel de Roos.
No
fim de 2013, De Roos, que é historiador e pesquisador da obra de
Bram Stoker resolveu completar um estudo prévio sobre a ideia
plantada pelo autor de que os relatos sobrenaturais do livro seriam
verídicos.
“Por
razões que não posso explicar muito bem – provavelmente
enraizadas em traumas de infância e uma falta de confiança em
verdades estabelecidas – eu pensei que seria uma boa ideia comparar
a tradução de Dalby do prefácio com o texto Islandês original.
Uma cópia em facsimile dele havia sido publicada em 1993 no The Bram
Stoker Journal, junto ao artigo de Dalby, mas, novamente por razões
que eludem a mente racional, eu quis voltar a fonte e achar eu mesmo
uma cópia da edição de 1901. Eu escrevi para várias istituições
em Reykjavík e tive sorte de entrar em contato com Katrín
Guðmundsdóttir e Einar Björn Magnússonn, da Biblioteca Municipal
de Reykjavík, que educadamente me mandaram um scan novo do prefácio
de sua cópia de Makt Myrkranna.”
[Hans
Corneel De Roos, On Dracula's Lost Icelandic Sister Text]
Já
era o início de 2014 quando De Roos começou a transcrever a cópia
da biblioteca, e a traduzí-lo, comparando com a tradução de Dalby.
Foi quando, ao buscar certo trecho do prefácio na barra de busca do
Google, ele se deparou com um outro scan do prefácio em um site da
internet, mas não do livro, e sim de uma serialização da história
em um jornal Islandês, datada de um ano antes da publicação
oficial de Makt Myrkranna.
A
serialização de Dracula no jornal Islandês Fjallkonan não
foi a primeira. O livro foi publicado nesse formato no jornal
norte-americano Charlotte Daily Observer em 1899, e no jornal
hungaro Budapesti Hírlap em 1898 (provavelmente a primeira
tradução da obra para outro idioma). Mas essas são descobertas
recentes, e não tornam as serializações da obra em jornal menos
raras. De Roos conseguiu encontrar, no mesmo site em que descobriu o
prefácio, todas as edições seguintes do jornal em questão,
conseguindo uma transcrição completa de todos os episódios de Makt
Myrkanna.
Acontece
que o livro que ele encontrou era completamente diferente do Dracula
que nós conhecemos.
Poderes das Trevas: Dracula Director's Cut Redux
Makt
Myrkranna é menor
que Dracula, mas a primeira parte do livro, com Harker no castelo do
Conde, é consideravelmente maior que a da publicação original. A
segunda parte do livro é quase que uma versão resumida do resto da
história, tudo se resolve em cerca de 40 páginas de narrativa
truncada. Além de ultra condensada, ela subitamente deixa o
característico estilo epistolar. Certos personagens, como Renfield,
sequer aparecem, e quatro páginas após Van Helsing ter explicado como
se mata um vampiro para que combatam o Conde, Drácula já está
morto, em uma sequência de poucos parágrafos. É quase como se o
tradutor islandês, Valdimar Ásmundsson, estivesse com pressa de
terminar o trabalho para que a história pudesse ser publicada no
jornal.
![]() |
Valdimar Ásmundsson, que parecia o Lovecraft usando um bigode falso. |
E acreditem, são muitas (darei detalhes dessas diferenças mais adiante, esperem um pouco).
Uma
teoria é que, como Bram Stoker teve de mudar muito do livro para que
fosse publicado por Archibald Constable & Co., ele viu na
tradução do livro uma oportunidade de lançar uma versão mais
completa e sem censura de sua história. Entretanto, Stoker era
notoriamente pudico (mesmo tendo morrido de sífilis), e pró-censura,
e o teor erótico presente em Poderes das Trevas (sim, isso mesmo,
esperem um pouco que dou mais detalhes) colocam essa teoria em
cheque.
Por
outro lado diversos pontos da trama de Makt Myrkranna que não
estão em Dracula estão presentes nas anotações originais de Bram
Stoker para a história. Personagens tem nomes de conhecidos do autor
em sua vida pessoal, e existem referências a acontecimentos, como os
Esquartejamentos do Rio Tâmisa (ocorridos um ano antes dos crimes de
Jack o Estripador, e cobertos pela imprensa Londrina, mas totalmente
desconhecidos na Islândia), que nem Ásmundsson, que nunca viajara
para fora de seu país, nem o leitor Islandês da época tinham como
conhecer. É possível que as mudanças na história não tenham sido
feitas apenas pelo tradutor sem consentimento de Bram Stoker, afinal,
ele próprio escreveu um novo prefácio para ela..
O
que tivemos aqui foi provavelmente um processo de co-autoria. Uma
versão nova de Dracula criada em conjunto a partir de uma versão
anterior do livro.
Então,
graças a curiosidade e o trabalho de tradução de Hans Corneel De
Roos, uma edição em inglês de Makt Myrkranna foi compilada
e lançada pela Overlook Press.
“Powers
of Darkness: The Lost Version of Dracula” de Bram Stoker &
Valdimar Ásmundsson chegou nas livrarias em Janeiro de 2017, com um
prefácio escrito por Dacre Stoker e diversas notas sobre as
diferenças e processo de tradução, deixando o mundo literário
mais do que surpreso, tanto por sua existência, quanto por ter
permanecido desconhecido pelo resto do mundo por mais de cem anos.
Mas
a história não terminou aí...
Poderes das Trevas: Dracula Director's Cut Versão 1.0
Entra
na história o pesquisador literário sueco Rickard Berghorn.
Ao
ler sobre o lançamento de Makt Myrkranna, Berghorn se lembrou
que a tradução sueca de Dracula tinha um nome similar com o mesmo
significado, Mörkrets Makter, e ao buscar na Biblioteca
Nacional Sueca, descobriu que a obra também havia sido serializada
em jornais, nas publicações Dagen e Aftonbladets
Halkfvecko-Upplaga, datando de 1899, um ano antes da serialização
de Makt Myrkranna.
![]() |
Götebrogs Aftonbladet, 25 de setembro de 1899, oferecendo uma reedição de Mökrets Makter |
Agora
vem a melhor parte: Mörkrets Makter, a versão Suéca de
Poderes das Trevas, tem quase o dobro do tamanho de Dracula!
A
versão é identica a Makt Myrkranna até o fim da primeira
parte, com Harker fugindo do castelo. Na serialização em
Aftonbladet, ela começa a apresentar a narrativa resumida a partir desse ponto,
sem estar em estilo epistolar, embora Renfield ainda esteja presente,
o que nos leva a conclusão que a versão Islandesa foi ainda mais
resumida por Ásmundsson a partir da publicada em Aftonbladet (De
fato, pesquisadores literários Islandeses suspeitavam há muito
tempo que Makt Myrkranna não fosse um texto original escrito
em Islandês, mas a tradução de uma versão escandinava anterior).
Mas na versão publicada o periódico Dagen a história cresce, muito. Ela tem até ilustrações
(não muito boas, é verdade) e foi publicada mais uma
vez, anos depois, em uma revista barata chamada Tip-Top, com a
apresentação “Romance de Bram Stoker. Adaptação Sueca para
Tip-Top por A-e”. A ligação com Bram Stoker, ao que parece,
não era com Valdimar Ásmundsson, da tradução Islandesa, e sim
com o misterioso A-e da versão Sueca, que até o momento, ninguém
tem nenhum indício concreto de quem seria, mas que é, de fato, a
figura que teria trabalhado com Bram Stoker (ou com seu consentimento) para a criação do
livro.
O
que é surpreendente é que diferente da versão serializada na
Islândia, que era obscura fora do país e ninguém havia pensado em
ler por completo (com exceção do prefácio) para ver se haviam
diferenças, a versão Sueca não era desconhecida no mundo
literário... e mesmo assim, ninguém também havia pensado em ler
para ver se havia alguma diferença!
Pelo
menos até lerem sobre a tradução de Makt Myrkranna.
"Ninguém previu isso. Nem meus colegas de pesquisa ou meu editor, ou minha amiga Simone Berni, da Itália, que é uma especialista nas primeiras traduções de Dracula [...] eu passei três anos tentando encontrar uma conexão entre Valdimar Ásmundsson e Bram Stoker. Um contato direto assim explicaria como elementos das notas de Bram para Dracula que nunca foram publicadas no livro de 1897 foram parar em Makt Myrkranna. Agora parece que devemos começar é a procurar por uma ligação entre Stoker e Harald Sohlman, o Editor-Chefe da Dagen e Aftonbladet."
"É um pouco irônico. Tanto esforço acadêmico e pesquisa foram aplicados em um texto Islandês que é apenas um pálido resumo de uma versão já resumida, baseada no texto original publicado no jornal Dagen perto da virada do século. Não teria sido muito difícil achar o texto sueco original, se tivessem feito consultas online nas Bibliotecas Nacionais Escandinavas e procurado em seus arquivos"
"Ninguém previu isso. Nem meus colegas de pesquisa ou meu editor, ou minha amiga Simone Berni, da Itália, que é uma especialista nas primeiras traduções de Dracula [...] eu passei três anos tentando encontrar uma conexão entre Valdimar Ásmundsson e Bram Stoker. Um contato direto assim explicaria como elementos das notas de Bram para Dracula que nunca foram publicadas no livro de 1897 foram parar em Makt Myrkranna. Agora parece que devemos começar é a procurar por uma ligação entre Stoker e Harald Sohlman, o Editor-Chefe da Dagen e Aftonbladet."
[Hans Corneel de Roos, Icelandic version of Dracula turns out to be Swedish in origin]
"É um pouco irônico. Tanto esforço acadêmico e pesquisa foram aplicados em um texto Islandês que é apenas um pálido resumo de uma versão já resumida, baseada no texto original publicado no jornal Dagen perto da virada do século. Não teria sido muito difícil achar o texto sueco original, se tivessem feito consultas online nas Bibliotecas Nacionais Escandinavas e procurado em seus arquivos"
[Richkard Berghorn, Mökrets Makter: Draculas väg till sverige]
Uma
pequena editora Suéca chamada Aleph Bokförlag publicou o
texto integral de Mökrets Makter em Outubro de 2017.
Certo,
eu falei isso tudo, dei uma mini-aula sobre publicações
serializadas de Dracula, mas resta a questão, quais são essas
mudanças tão drásticas que tornam Poderes das Trevas um livro
diferente?
Se
preparem que é aqui que o negócio fica doido.
Baladas em Carfax, Macacos-Vampiros e Jóias Hipnóticas
A
primeira coisa que tenho de dizer é que Poderes
das Trevas não
enrola. Diferente das longas discussões morais, filosóficas, ou
declarações de apreço que os personagens de Dracula tem, Poderes
das Trevas tem a tendência de avançar rápido, como em uma história
pulp,
onde cada trecho empurra o enredo para frente.
É
claro, isso é uma diferença de estilo. Mas e a história em si?
Bem,
podemos ilustrar isso na estadia de Jonathan Harker no castelo de
Dracula...ahem, digo, a estadia de Thomas Harker no castelo de
Draculitz.
Sim,
Poderes das Trevas muda certos nomes. Mina e Lucy, se tornam
Wilma e Lucia, por exemplo.
Em
toda a seção em que se passa no castelo, Dracula parece estar
jogando um jogo de gato e rato com Harker, posando de cosmopolita,
mencionando seu apreço pelas histórias de Arthur Conan Doyle, para
em seguida chocar suas sensibilidades vitorianas com discussões
abertas sobre assuntos sexuais, coleção de gravuras eróticas, e
mencionando ter passado meses torturando a esposa e seu amante, em
seus “dias de marido ciumento”.
Ah,
sim, o Conde é aparentemente casado com sua própria prima (ou tia,
ou sobrinha... a palavra usada para as três é a mesma no idioma em
que o livro foi escrito), além de ter uma filha. Segundo ele, todas
as linhas sanguíneas de seu clã, cujos retratos adornam as paredes
do castelo, são puras. Isso se dá, é claro, através das velhas
práticas incestuosas da nobreza.
Aliás,
Átila continua sendo aludido como um ancestral de Drácula, e ele e
seus Hunos teriam ganhado poder se relacionando com demônios e
bruxas na floresta. Além disso, sua linhagem teria membros secretos
por todas as casas nobres mais importantes da Europa.
Mas
deixe-me falar um pouco da figura da Condessa, esposa de Drácula.
Em
Dracula existem as três vampiras que atormentam Harker durante sua
estadia no castelo. Aqui, apesar de não ser a única mulher
presente, pois o Conde também tem uma criada surda e muda (saída
diretamente das anotações de Bram Stoker), é dado um destaque
maior a principal das “noivas de Drácula”. Essa, por sua
vez, é ninguém menos que a mesma figura loura mencionada em “O
Convidado de Drácula”.
Em determinado ponto Drácula explica que essa sua parente em questão é mentalmente instável (Drácula, Rei dos Vampiros e do Gaslighting), e que as vezes pensa ser sua própria tataravó, inclusive mostrando um retrato que confirma a semelhança de ambas.
A
Condessa, reclamando de sua imensa solidão, tenta seduzir Harker
todas as noites em seu quarto, e ao contrário da luxúria de sangue
clara das três vampiras em Dracula, em Poderes das Trevas seus
métodos de atraí-lo e corrompê-lo se focam em outro tipo de
luxúria. Isso fica claro até no tipo de prosa usada.
Vamos
comparar um trecho específico de Dracula, com sua versão
correspondente em Poderes das Trevas.
Em Dracula:
Em Dracula:
“A
mulher loura caiu de joelhos e se curvou sobre mim num êxtase de
enternecimento. Havia uma deliberada volúpia nela que era tanto
arrebatadora quanto repulsiva, e conforme arqueava seu pescoço, ela
chegou a lamber os lábios feito um animal, até eu poder ver a
umidade brilhando em seus lábios e língua escarlates enquanto
passavam pelos dentes brancos e afiados.”
Em
Poderes das Trevas:
“E
então, dois grandes clarões fulgurantes se seguiram, iluminando
tudo com uma brilhante e elétrica luz. E neste brilho ela estava
subitamente a minha frente -, muito perto --- estonteante – como uma
chama branca, com o mesmo sorriso tentador e enigmático de quando
eu vi pela primeira vez as chamas azuis de seus olhos, penetrando
minha mente e fazendo que minha energia e força de vontade
derretessem feito cera-de-abelha. Eu a vi assim por alguns segundos
apenas, esguia, mas voluptuosa contra a luz baça do quarto – e
então tudo ficou escuro [...]
Mais
uma vez o silencioso brilho chamejante lampejou, fantasmagórico e
aliegínea – me revelou seu rosto adorável perto do meu, se
curvando sobre mim, seus olhos fixos nos meus; os lábios vermelhos
semi-abertos, voluptuosos de desejo, a jóia sobre seu seio branco nu
brilhava; eu vi como ela caiu de joelhos, perto de onde eu me
deitava; no momento seguinte tudo era escuro novamente, e em um
estado de torpor estonteante, eu senti como se estivesse afundando em
um abismo […] – – senti seu hálito sobre meu rosto, morno e
intoxicante – – senti um par de lábios entumescidos se
pressionarem contra o meu pescoço em um longo beijo ardente que fez
minha própria essência tremer com o êxtase de desejo e angústia –
E em um transe descontrolado eu enlacei a bela aparição em meus
braços – –”
Embora
Harker (supostamente) se esforce para resistir aos avanços da
Condessa, não há tantos sinais da repulsa como os que ele demonstra
em Dracula. Ele chega a mencionar que ela igualmente o assusta e o
atrai. E mesmo com o Conde sempre interrompendo esses encontros,
Harker ainda é acometido por “febres” devido as “estranhas
paixões” provocadas por sua visitante.
![]() |
Ingrid Pitt em Countess Dracula, 1971 |
Harker
eventualmente percebe que é um prisioneiro no castelo, e ao
explorá-lo, ao invés de encontrar caixas de terra, o que ele
encontra ao explorar essa versão mais labiríntica da morada de
Dracula, é uma orgia satânica promovida pelo Conde em sua longa
capa vermelha.
Uma
Missa Negra em um templo decorado com chamas, com direito a narrativa
lúrida descrevendo camponesas acorrentadas e de vestes rasgadas que
são sacrificadas por um séquito de adoradores (e olha, não é a
primeira nem a ultima combinação de nudez e sangue que rola no
livro).
Ah,
e esses adoradores de Drácula? Híbridos vampíricos animalescos,
criaturas meio primatas meio humanas que habitam as cavernas cavadas
sob o próprio castelo.
![]() |
Ilustração da serialização da Dagen, 1899 |
Eu
disse que as coisas iam ficar malucas.
E
enquanto o Conde em Dracula deixa seu lar por ter exaurido a
região do que precisa para sobreviver, partindo para Londres, o
centro da civilização, para ter um novo campo de caça, em Poderes
das Trevas suas ambições são maiores.
O
Conde, que aqui tem o costume de mandar cartas para políticos e
figuras europeias famosas (provavelmente usando mesóclise e citações em latim), todas financiadas por ele para dar cabo de
suas conspirações de dominação dos vivos, a propagação do
vampirismo, e a de seus rituais de magia negra e sacrifícios
humanos.
Em
suas conversas com Harker, o Conde, ostentando divisas militares nas
vestes, chega a citar Darwinismo Social como justificativa de seu
direito de nascença de esmagar as pessoas comuns sob suas botas, e
que os vampiros são um novo patamar na evolução da humanidade. Em
determinado ponto ele diz:
“os
mais fortes devem pravelecer e conquistar o mundo. Aqueles que são
fracos foram criados apenas para satisfazer as necessidades dos mais
poderosos. A pessoa que sabe como peceber sua força ganhará
supremacia e terá tudo sob o seu comando – beleza, prudência, e
conhecimento”
E
enquanto em Dracula o Conde parte sozinho para a Inglaterra,
se passando por humano apenas brevemente para adquirir propriedades,
em Poderes das Trevas Dracula se torna parte da alta
sociedade. Assumindo a identidade de “Barão Székely”,
ele visita cordialmente Wilma (Mina) e Lucia (Lucy), seduzindo a
última e lhe dando conselhos sobre seus dons mediúnicos latentes
(!).
O
futuro casamento de Lucy com Holmwood inclusive, fica a perigo, por
conta da obsessão dela pelo misterioso Barão.
O Drácula de Poderes das Trevas é tão social que até mesmo dá grandes festas em Carfax, sua mansão (que aqui não é
uma ruina, e sequer fica no mesmo endereço), para onde convida
diplomatas estrangeiros ricos e poderosos, que planejam derrubar a
democracia e instituir suas leis sanguinárias em uma 'nova ordem
mundial'.
Além
disso, o Conde traz todo um séquito de vampiros aristocratas
decadentes com ele para ajudar em seus planos de engenharia social.
Entre os novos personagens vampíricos que frequentam as festas de
Carfax estão o Principe Koromesz, infame embaixador Austríaco em
Londres, a Condessa Ida Varkony, irmã de Koromesz, o médium
Margravine Caroma Rubiano, e Madame Saint Amand, uma donzela de
muitos amantes.
Uma
outra diferença em Poderes das Trevas é o destino de certos
personagens.
O
de Lucy, após ter seu sangue exaurido por Drácula e retornar do
túmulo é incerto. Holmwood deixa seu caixão aberto com uma muda
de roupas dentro, mas nada mais é mencionado sobre o assunto (já a
mãe de Lucy e sua empregada tem um fim mais definitivo, sendo
encontradas com a garganta aberta na mesma noite em que Lucy recebe
suas derradeiras transfusões de sangue).
![]() |
Isso não acontece no livro. |
Por
seu sanatório ser exatamente ao lado de Carfax, o pobre Dr. Seward
acaba tratando os supostos distúrbios do sono da bela Condessa Ida
Gonobitz-Vàrkony, que começa a hipnotizá-lo. Seward acaba
retornando várias noites a Carfax, frequentando suas festas, e o
misterioso e intimo “quarto vermelho” da mansão, e lentamente
perdendo o controle de seu estado mental, culminando na perda total
de sua sanidade e no incêndio do sanatório.
Mina
é atacada por uma mulher fantasmagórica ao buscar Harker na
Transilvânia, e ambos acabam convalescendo no mesmo convento. Após
se casarem, Mina leva Harker, que não se lembrados acontecimentos no
castelo, para se consultar com um famoso neurologista em Vienna, e
determinar se um dia ele irá se recuperar do trauma.
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"Meu teorria é que essa Drácula possui uma transtorno oral vindo de trrauma envolvendo seu mãe" |
Quincy
Morris sobrevive, mas é incriminado e vai a julgamento pelo
assassinato do Conde.
Além
disso temos inúmeros personagens novos, como o tio de Lucy, a irmã
de Arthur Holmwood, que se casa com o assistente romeno do Príncipe
Koromesz, os policiais Edward Tellet e Barrington Jones,
provavelmente evoluções do Detetive Cotford, mencionado nas
anotações originais, que investigam os crimes de Drácula (chegando
até a incriminar Harker por engano), e certos personagens que sobrevivem em Dracula, morrem em Poderes das Trevas, e vice e versa.
O
livro possui também um grande pessimismo de fim de século, particularmente no que se refere á política internacional e o estado de tensão dos países, como reflete o Dr. Seward ao ler o jornal em certo trecho:
“A seção
internacional do jornal anuncia sobre várias notícias estranhas –
comportamento lunático e revoltas violentas organizadas por
anti-Semitas, na Russa, Galicia e também no sul da França – lojas
saqueadas, pessoas massacradas – insegurança de vida e propriedade
– e as mais fantasiosas narrativas inventadas sobre “assassinatos
rituais”, crianças sequestradas e outros crimes hediondos, todos
atribuídos de forma criminosa aos pobres Judeus, enquanto jornais
influentes instigam uma guerra de exterminação geral contra os
“Israelitas”. É de se pensar que esse é o meio da Idade das
Trevas! […] Agora, mas uma vez, parece que a chamada “Conspiração
de Orleans” está sendo investigada – enquanto ao mesmo tempo os
Republicanos livres na França celebram com exaltação os expoentes
de escravidão e despotismo do Leste […] São tempos estranhos
esses em que vivemos, isso é a verdade. – – – As vezes me
parece que todas as fantasias insanas, todos ideias loucas, todo o
mundo de inconstância e noções fragmentadas em que eu, como
médico de sanatório, fui forçado a adentrar por anos ao cuidar de
meus pobres pacientes, agora começam a se formar e serem praticadas
no curso dos eventos mundiais”
Prevendo Tendências
Outra
coisa curiosa de Poderes das Trevas é que a derrota do Conde
se dá na Inglaterra, com Van Helsing atravessando seu coração com
uma adaga ainda em Carfax (que é destruída, tal qual o castelo, no
final omitido de Dracula). A omissão da perseguição pelos Cárpatos
e substituição por um final mais rápido e local é algo que seria
feito repetidamente nas adaptações de Drácula no teatro e cinema.
De fato, a peça teatral de 1924 que deu origem a adaptação cinematográfica com Bela Lugosi, seguia por um caminho muito parecido, com o
Conde se passando por um aristocrata mais abertamente social, e sendo
destruído em seu próprio refúgio em Londres. Isso levanta a dúvida
de que versão exatamente foi usada por Hamilton Deane para a
adaptação da obra.
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Dorothy Peterson e Bela Lugosi na peça de Hamilton Deane, 1927 |
Um outro elemento presente em diversos filmes (os da Hammer, principalmente, mas que já dava as caras nos da Universal), é
um anel pertencente a Drácula com um papel importante. Em Poderes
das Trevas, existem jóias com propriedades hipnóticas usadas
pelos vampiros.
Em
suas anotações originais, Stoker menciona Lucy achando um
misterioso broche na praia de Whitby, vindo do naufrágio do Demeter,
o navio que traz Drácula à Inglaterra. A joia, volta a aparecer
quando Lucy é atacada no cemitério, durante um de seus episódios
sonâmbulos. Em Poderes das Trevas ela é influenciada pelo broche de
brilhantes ao encontrar os ciganos que servem Drácula. O mesmo tipo
de joia é usada pela Condessa Vàrkony ao dominar Seward, e pela
figura loura que seduz Harker no castelo. Em determinado ponto,
Drácula dá a Harker um anel de rubi que possui o mesmo brilho
sugestivo das demais jóias.
E é claro existe a vestimenta mais característica que Drácula usa em Poderes das Trevas, seus trajes rituais: uma longa capa vermelha.
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Os sugestivos e hipnóticos anéis de Drácula em House of Frankenstein, Dracula AD 1972, e Dracula's Daughter |
"Denn Die Todten Reiten Schnell"
A existência de Poderes das Trevas é um soluço de continuidade que geralmente não vemos acontecer na vida real. É quase como ver duas espécies distintas que vem de um ancestral em comum. Ler Poderes das Trevas causa uma certa estranheza, e o resultado é similar ao efeito quando dormimos ao assistir um filme, e as falas do filme são encorporadas em nossos sonhos em contextos diferentes (no caso, você dormiu assistindo Dracula, mas o filme acabou e começou alguma outra história depois, envolvendo homens das cavernas, conspirações internacionais, proto-fascistas e bailes vitorianos).
Por mais de um século Dracula tem sido adaptado e re-adaptado para diferentes mídias, em versões boas (como a do Francis Ford Coppola), em versões que tomam uma vida própria (Universal e Hammer Films), versões risíveis, medíocres e que provavelmente forma uma má ideia, ou uma ideia decente mal executada (Dracula 2000, Dracula Untold, a série do Dracula da NBC), gerou jogos (Castlevania), quadrinhos (Tomb of Dracula), animações (Hotel Transylvania) além de inúmeros spinoffs, pastiches, homenagens, e versões alternativas, como os livros The Dracula Tape, de Fred Saberhagen, que envolve o velho Conde dando a sua versão dos acontecimentos via suas memórias em um gravador (uma ano antes de Entrevista com o Vampiro), The Diares of the Family Dracul, de Janne Kalogridis, que são exatamente o que o título diz, Chidren of the Night, de Dan Simmons, que traz uma história na Romênia pós-comunismo envolvendo a linhagem de Drácula, e o meu favorito, a série Anno Dracula, de Kim Newman, que parte da premissa que os planos de Drácula na Inglaterra foram bem sucedidos, com ele se tornando príncipe-consorte, e introduzindo abertamente o vampirismo ao mundo, e todas as consequências disso em um mundo onde todos os vampiros da ficção co-existem (o meu livro favorito é o terceiro da série "Dracula Cha Cha Cha").
E é claro, além de tudo isso, o livro em si nunca deixou de ser reeditado (estou de olho naquela edição da Darkside Books que é igual a edição original de capa amarela).
E como "os mortos viajam céleres", não demorou para que decidissem adaptar a versão perdida de Drácula para outra mídia. O produtor Sigurjón Sighvatsson, da Scanbox, anunciou estar trabalhando com o premiado roteirista islandês Otto Geir Borg em uma série de TV baseada em Poderes das Trevas.
Aparentemente, a série de 10 episódios intitulada "Dracula Now" vai se focar no lado político da história, trazendo os acontecimentos do livro para os dias atuais, e com Drácula sendo um manipulador tirânico megalomaníaco com planos de dominar a Europa.
"'Dracula Now' vai ser uma alegoria do que está acontecendo hoje nos Estados Unidos, Reino Unido e França. Não será como um spinoff de Dracula porque não há necessidade disso. 'Dracula Now' vai explorar a ideia de Drácula como um ditador forjando um reino de sangue para controlar as pessoas no mundo atual."
Além dessa, temos uma nova adaptação (do Drácula clássico dessa vez) sendo produzida pela BBC que será lançada em um futuro próximo.
Não vou falar da franquia Dark Universe porque essa já está morta-viva há um bom tempo, e suspeito que não vai conseguir se erguer do túmulo não.
Por mais de um século Dracula tem sido adaptado e re-adaptado para diferentes mídias, em versões boas (como a do Francis Ford Coppola), em versões que tomam uma vida própria (Universal e Hammer Films), versões risíveis, medíocres e que provavelmente forma uma má ideia, ou uma ideia decente mal executada (Dracula 2000, Dracula Untold, a série do Dracula da NBC), gerou jogos (Castlevania), quadrinhos (Tomb of Dracula), animações (Hotel Transylvania) além de inúmeros spinoffs, pastiches, homenagens, e versões alternativas, como os livros The Dracula Tape, de Fred Saberhagen, que envolve o velho Conde dando a sua versão dos acontecimentos via suas memórias em um gravador (uma ano antes de Entrevista com o Vampiro), The Diares of the Family Dracul, de Janne Kalogridis, que são exatamente o que o título diz, Chidren of the Night, de Dan Simmons, que traz uma história na Romênia pós-comunismo envolvendo a linhagem de Drácula, e o meu favorito, a série Anno Dracula, de Kim Newman, que parte da premissa que os planos de Drácula na Inglaterra foram bem sucedidos, com ele se tornando príncipe-consorte, e introduzindo abertamente o vampirismo ao mundo, e todas as consequências disso em um mundo onde todos os vampiros da ficção co-existem (o meu livro favorito é o terceiro da série "Dracula Cha Cha Cha").
E é claro, além de tudo isso, o livro em si nunca deixou de ser reeditado (estou de olho naquela edição da Darkside Books que é igual a edição original de capa amarela).
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E como "os mortos viajam céleres", não demorou para que decidissem adaptar a versão perdida de Drácula para outra mídia. O produtor Sigurjón Sighvatsson, da Scanbox, anunciou estar trabalhando com o premiado roteirista islandês Otto Geir Borg em uma série de TV baseada em Poderes das Trevas.
Aparentemente, a série de 10 episódios intitulada "Dracula Now" vai se focar no lado político da história, trazendo os acontecimentos do livro para os dias atuais, e com Drácula sendo um manipulador tirânico megalomaníaco com planos de dominar a Europa.
"'Dracula Now' vai ser uma alegoria do que está acontecendo hoje nos Estados Unidos, Reino Unido e França. Não será como um spinoff de Dracula porque não há necessidade disso. 'Dracula Now' vai explorar a ideia de Drácula como um ditador forjando um reino de sangue para controlar as pessoas no mundo atual."
[Sigurjón Sighvatsson, para a Variety]
Não vou falar da franquia Dark Universe porque essa já está morta-viva há um bom tempo, e suspeito que não vai conseguir se erguer do túmulo não.
Drácula, seja o Conde ou o livro, tem uma maneira de sempre retornar. Quer seja voltando inexplicavelmente do além-túmulo após ser decapitado, com uma gota de sangue pingando em um monte de cinzas em uma ruína ancestral, ou na descoberta de uma versão alternativa de si próprio. Talvez a capacidade de Drácula de se reinventar, algo essencial em um vampiro imortal, seja o que continua a manter sua relevância viva, ou morta-viva, por tanto tempo.
E com esse pensamento, eu fico por aqui. E a vocês eu digo como disse o próprio Conde:
"Vá á salvo, e deixe aqui algo da felicidade que trouxe consigo"
Fantástico seu texto!
ResponderExcluirEu adoro o Drácula e nunca tinha ouvido falar em nada disso. Obrigada por compartilhar!
Muito bom o texto!
ResponderExcluirConteúdo fantástico, obrigado!